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terça-feira, 3 de maio de 2011

Os PERIGOS da AUTOMEDICAÇÃO em ODONTOLOGIA

Autor: Dr. Caetano Baptista Neto

Já foi o tempo em que se procuravam os farmacêuticos, em primeira instância, quando tínhamos algum problema de saúde para tomar remédios por eles sugeridos. Hoje se sabe que este ato é proibido por lei e pode trazer graves seqüelas ao indivíduo. Na odontologia não é diferente, pois a boca faz parte do organismo e qualquer alteração bucal leva a um comprometimento sistêmico.
Muitos são os casos onde as pessoas, frente às dores de dente, vão até as farmácias e pedem para os balconistas remédios para aliviar o sintoma e estes, inescrupulosamente, indicam medicamentos sem critérios, sem diagnosticar a doença dental ou bucal e, pior, sem habilitação legal para tal. Com certeza quem paga com esta irresponsabilidade é o paciente, pois o problema não foi sanado, mas prorrogado. Quando se prescreve um remédio, o profissional além de estar bem embasado teoricamente sobre a ação da medicação, apresenta experiência clínica sobre seu uso, bem como indicação e posologia. Para cada paciente e a doença que o acompanha não há um único remédio de escolha e nem sua dose é a mesma, caso contrário bastaria ler a bula que seria suficiente. Fica claro então, que para uma doença existem várias opções de abordagens terapêuticas com variações na posologia, bem como a necessidade do uso.
Outro fator importante para a ministração de um medicamento é o diagnóstico correto e precoce por um profissional da área em questão. Na odontologia o cirurgião dentista avalia as condições gerais do paciente, as inviabilidades em caso de sensibilidade alérgica, comprometimento em algum órgão que o remédio irá ser absorvido e metabolizado, em fim, há uma série de detalhes a serem levados em consideração para sua eleição. Milhares de pessoas ainda tomam por conta própria os produtos ofertados nas farmácias e supermercados como se fossem meros coadjuvantes diários de nossas vidas. Pessoas utilizam medicações sem necessidade, como vitaminas, analgésicos, antiinflamatórios, desconhecendo seus efeitos nocivos a longo prazo.
Em nossa rotina clínica presenciamos pacientes portadores de doenças renais, justamente pela utilização inadvertida de remédios durante extensos períodos sem acompanhamento profissional, acarretando em insuficiência renal crônica. Há pacientes com alterações gástricas (úlceras), pelo mesmo motivo anterior, e pessoas com distúrbios hemorrágicos (dificuldade na coagulação). Muitas vezes alguns procedimentos cirúrgicos odontológicos são adiados, quando possível, pelo uso inadvertido de substâncias que alteram o tempo de sangramento e coagulação do paciente antes do ato operatório, como os Salicilatos (Aspirina/AAS/Bufferin/dentre outros).
O que leva a pessoa a se automedicar, em odontologia, é a dor. A sensação dolorosa é um aviso importante do corpo de que algo errado está acontecendo, sendo imprudente ignorar o fato e tentar sanar o problema com recursos próprios, pois acaba mascarando e piorando o problema. A procura do profissional dentista é fundamental para que o problema seja erradicado, caso contrário só irá agravar a condição do paciente. Sempre que uma infecção demorar a ser debelada, seja dentária ou sistêmica, o risco de contaminação por bactérias no sangue (bacteremia) é eminente, e pode levar a um comprometimento de outros órgãos, como exemplo o coração. Este acometimento é responsável por volta de 10% de óbitos cardíacos, a Endocardite bacteriana, tendo como principal origem as infecções buco-dentais.
O uso indiscriminado de antibióticos também é crítico, pois se for mal indicado e utilizado, pode selecionar bactérias não sensíveis ao medicamento ou, até mesmo, criar resistência nos agentes patógenos, limitando os recursos terapêuticos proporcionados ao paciente.
Poucas são as doenças dento-bucais que não exigem intervenção do cirurgião dentista, ou seja, existem lesões que por si só regridem, como o caso da Afta vulgar – já abordada neste jornal, mas a maioria necessita de conduta terapêutica especializada, seja no diagnóstico como no tratamento.
Frente a uma alteração local ou geral, procure ajuda adequada para não sofrer as conseqüências deletérias decorrentes da automedicação.


Publicado no jornal Primeira Página de São Carlos, caderno Cultura, coluna Saúde Bucal, 2001


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